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Geometrografia | Fase 2
Olhares das Artes RJ | 2023-2024
Lei Paulo Gustavo RJ
Paisagens entre o figurativo e o abstrato
Por Marcelo Valle, curador

Ao longo dos séculos, as artes, sobretudo a pintura, retrataram "a paisagem" e sua dinâmica de mudança em diferentes tempos, contextos e situações, tornando-se quase que um gênero à parte, independente de qualquer movimento artístico. Por vezes representada como pano de fundo, outras como assunto principal, diante de um vasto inventário de paisagens representadas, tornou-se um desafio trazer algo que nos tire do lugar comum, ou melhor, da paisagem comum. O artista Romulo Bandeira com sua série GEOMETROGRAFIA nos convida a explorar outras formas e dimensões de paisagens rurais e urbanas do estado do Rio de Janeiro. A primeira série de quadros se concretiza durante a pandemia de COVID-19, quando o artista se retira para uma área rural da região serrana do estado. Ali, dentro de um outro tempo, consegue focar na paisagem ao seu redor, num exercício cotidiano de observação e geometrização daquilo que se colocava diante de seus olhos. Num jogo de palavras e sentidos, GEOMETROGRAFIA mistura geometria e geografia, subvertendo regras e espaços, abstraindo dimensões da suposta realidade, jogando tudo num plano tomado de formas geométricas que sugerem ao espectador reconstituir a partir de seu próprio repertório a paisagem sugerida entre o figurativo e o abstrato. A estratégia de Romulo é ativar essas figuras geométricas que, em conjunto com as cores, formam uma totalidade, recompondo uma ampla paisagem que é percebida por nós todos como estranhamente familiar. Entre 2023 e 2024, o artista cria uma nova série de pinturas que à sua maneira remetem à paisagem urbana dos subúrbios e das periferias da cidade do Rio de Janeiro, áreas que conhece bem, por ter crescido e vivido nas zonas Norte e Oeste. Mais uma vez o artista recorre à "geometrificação" da paisagem, criando novamente uma interação entre a geometria e o ambiente. No entanto, dessa vez nos sentimos mais próximos da imagem, num recorte que sugere um espaço mais comprimido, como se as figuras tivessem sido reordenadas, justapostas, refletindo bem a mudança na paisagem e sua maneira de ocupação muitas vezes precária, abundante e quase caótica de casas sobre casas, figura sobre figura. A princípio, diante de seus quadros, sentimos falta da representação da figura humana, seja nas paisagens rurais ou urbanas. Ledo engano! No jogo do artista o humano está ali, não em forma, mas em ato, na ação transformadora do ambiente, natureza maculada por casas, luzes, barragens, plantações, estradas, postes, muros, telhados, portas, caixas d'água, escadas, janelas. Romulo brinca com a geometria e, por fim, brincamos juntos recorrendo à nossa imaginação e capacidade de abstração, quebrando regras e recriando nossas próprias paisagens. Enquanto os primeiros quadros retratam o ambiente rural e do interior do estado, o conjunto de pinturas que compõem a nova série retrata a paisagem urbana a partir da perspectiva que forma o caráter artístico – e também moral – de Romulo: os subúrbios e a periferia. A geopolítica da cidade, o direito aos espaços e às diferentes alterações da paisagem influenciadas pelas nuances urbanas, como a precariedade e a abundância, a segurança e a violência, o possível e o desejado: tudo está ali, deixando clara sua estratégia artística, que consiste em ativar as formas geométricas subjetivamente para abrir infinitas possibilidades de interpretação que estão nesses espaços encontrados pelo artista. O trabalho tem raízes na interação entre a arte, a geometria, o ambiente e a percepção humana. Na obra, as figuras geométricas são exploradas não apenas por suas partes, mas por sua totalidade. Essa abordagem redefine a percepção tradicional, levando o observador a desenvolver um pensamento geométrico contemporâneo, no qual o espaço representado nas superfícies propostas é reconhecido como algo que ecoa em seu entorno cotidiano, seja de perto ou de longe, colocando sua perspectiva em uma posição entre o figurativo e o abstrato das formas. A partir dessa fundação, o espectador é instigado a explorar as conexões entre as representações visuais e suas características. Esse processo culmina em um patamar de abstração que o capacita a transcender a materialidade dos elementos, proporcionando uma visão subjetiva da paisagem. Do ponto de vista técnico, Romulo Bandeira convida o espectador a ir com ele do digital ao manual, fazendo da fusão entre ferramentas de design contemporâneo e técnicas manuais de pintura um terreno fértil para sua produção.

Conheça as obras:
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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

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Sem título | 2022

Impressão giclée com pigmento mineral

papel de algodão 68 x 43 cm

O projeto Geometrografia - Paisagens entre o figurativo e o abstrato é apresentado pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo. É realizado pelo Ateliê Romulo Bandeira, FLAG Escritório Criativo e MGS-CO Escritório de Projetos. Produzido por Motriz Sociocultural e Revés Produções, Geometrografia tem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Museu Bispo do Rosário, Ilumina Zona Oeste, Galeria Lado B e Espaço Travessia.

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Todos os direitos reservados ao artista Romulo Bandeira. ©2023

Desenvolvido por Flag - Dupla Fenda Escritório Criativo
Textos: MGS-CO Escritório de Projetos

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